quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre as minhas vontades

Todo mundo pensa que a minha maior vontade é voltar a andar. Não é. Juro. As minhas vontades são outras:

Sinto vontade de dançar, de usar salto alto, de não precisar usar fralda geriátrica.
Sinto vontade de sair sozinha na rua, de voltar a trabalhar e fazer compras na feira.
Sinto vontade de pegar a minha Ciça num sábado à tarde e fazer um programa de mulherzinha, só nós duas.
Sinto vontade de tomar banho de chuva com ela, jogando futebol e rolando na lama.
Sinto vontade de limpar a minha casa, lavar o meu banheiro e organizar meu guarda-roupa.
Sinto vontade de pegar um cineminha com meus amigos, mesmo os que me abandonaram. Eu não guardo mágoas.
Sinto vontade de ir a um show e pular muito.
Sinto vontade de pendurar as roupas no varal, de mudar os móveis de lugar, de carregar minha filha no colo.
Sinto muita, mas muita vontade de passear de mãos dadas com meu marido de novo.

Enfim... eu ainda não consegui me desligar do mundo "andante" e tenho muitas vontades (impossíveis?), mas ainda bem que existe aquele sábio ditado: VONTADE É UMA COISA QUE DÁ E PASSA

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sexualidade após lesão medular

Muita gente tem curiosidade mas poucos são os que tem coragem de perguntar. Por isso, resolvi escrever um post sobre o tema. Para matar a curiosidade das pessoas e para que se discuta o assunto sem preconceitos.
Cadeirantes fazem sexo? Sentem prazer? Têm orgasmos? A resposta é: CLARO QUE SIM!!!
É preciso ter em mente que, após a lesão, as pessoas precisam de um tempo para compreender o que aconteceu com seu corpo, que tipo de sensações ficaram preservadas e onde o toque é prazeroso. É importantíssimo esse auto conhecimento. Assim, é possível orientar melhor o parceiro para que ele não fique apreensivo ou receoso. Mas o melhor mesmo é descobrirem juntos as possibilidades de prazer e zonas erógenas que ainda não haviam sido descobertas.
Para as mulheres cadeirantes, sem dúvida, as coisas são mais fáceis. Culturalmente, as mulheres já tendem para um sexo onde a cabeça está em sintonia com o corpo. A sexualidade feminina também se alimenta de imaginação e fantasias. Já o homem é mais físico, ereção e ejaculação. Daí a dificuldade maior para eles.
É claro que cada pessoa reage diferente, dependendo do tipo e local da lesão. Em alguns casos, onde a lesão é mais baixa, alguma sensibilidade pode ficar preservada, como é o meu caso (até nisso eu sou privilegiada).
Cientificamente falando, a excitação ( lubrificação vaginal nas mulheres e ereção nos homens) de um lesado medular pode acontecer de duas formas: a psicogênica, que é provocada por estímulos indiretos como lembranças, imagens e cheiros. E a reflexa, que acontece através de estímulos diretos na região genital.
De resto, tudo acontece normalmente. É claro que é muito diferente do sexo que se fazia antes da lesão. A libido diminui consideravelmente, as posições são restritas e existe uma série de cuidados a serem tomados antes, durante e depois. Mas, ainda assim, é extremamente prazeroso para ambos.

Dentre os cuidados importantes, estão:

  • Esvaziar a bexiga antes da relação sexual para não haver perda de urina.
  • O funcionamento intestinal deve ser regular e também deve estar em dias para evitar perdas.
  • Se necessário, lubrificar a vagina com gel apropriado. De preferência, hidrossolúvel para evitar reações alérgicas.
  • Ter cuidado com a pele durante o ato, procurando sempre posições seguras e confortáveis.
  • Usar preservativo sempre. Mesmo que se tenha parceiro fixo.
  • Manter um acompanhamento ginecológico regular.
Sexo faz bem pra todo mundo, lesado ou não. E, se é possível, porquê não fazê-lo? Basta se despir dos medos e preconceitos e encontrar parceiros cuidadosos e dispostos.
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