quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sobre enfrentar o desconhecido.

Ontem meus olhos brilharam diante da TV. O jornal da tarde divulgava que as células tronco já estavam sendo utilizadas na Bahia. A reportagem mostrava que a experiência estava sendo feita em um paraplégico com lesão completa. Uma semana após o implante das células, ele já conseguia movimentar as pernas, inclusive, pedalando.
Quando a matéria acabou, meu marido já havia anotado o nome do hospital e o do médico responsável pela pesquisa. A luz no fim do túnel estava mais próxima do que pudéssemos imaginar.
- nós vamos pra lá! - ele me disse, no auge da euforia. - Eu vou conseguir entrar em contato com eles e você vai ser cobaia também!
Fiquei em silêncio por um longo tempo. Dentro de mim, como sempre, começava o rebuliço. Um turbilhão de pensamentos contraditórios. Mesmo empolgada com a possibilidade de cura, eu não conseguia parar de pensar:
- E se não der certo? Se essa for apenas mais uma tentativa frustrada? E se a esperança de milhões de pessoas que aguardam isso há anos, for por água abaixo?
- E se der certo? O que me faz pensar ser merecedora dessa dádiva? Com tantas pessoas com casos muito mais graves que o meu, porquê eu seria uma das primeiras?
- Como seria voltar a andar? Seria diferente de antes? Que sensações e sentimentos isso me traria?
- Como seria o recomeço depois de toda essa "bagagem" adquirida com a lesão?
- Como as pessoas reagiriam a isso? De que forma me enxergariam?
- Como seriam as pessoas se as sequelas das lesões medulares deixarem de existir? Sim, porquê são inegáveis as transformações pessoais que sofremos.
- O que seria daquela máxima que diz que as pessoas só aprendem com o sofrimento e com a perda?
Tudo bem, exagerei. É claro que as pessoas continuariam sofrendo por causas infinitas: pobreza, fome, violência, morte... Mas, e aquela transformação profunda, aquele bichinho da compaixão, da solidariedade e da tolerância que morde a gente e as pessoas da nossa família quando passamos por graves problemas de saúde, deixaria de existir?
Tudo muito complexo. Tudo muito controverso. Diante da cura iminente, cara a cara com a possibilidade de voltar a andar, o sentimento que me domina é o medo. Medo do desconhecido.

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