Sempre que saio de casa acontece a mesma coisa: olhares em cima de mim!
Sei que desperto a curiosidade das pessoas. Todo mundo quer saber sobre mim. Se foi acidente, quanto tempo faz, se foi muito difícil.... N perguntas! Eu realmente não me importo em respondê-las. Acho que o povo brasileiro é solidário por natureza, e essa curiosidade muitas vezes vem disso.
Algumas pessoas não falam nada - o que eu adoro! - mas, ainda assim, me olham diferente. Eu sinto!
As crianças, por exemplo, me olham com curiosidade. Parecem achar divertido andar em uma cadeira com rodinhas. São delas os olhares mais profundos - os que me desnudam. Um dia, um garotinho ficou tão impressionado comigo (ou com a cadeira, sei lá!), que ficou me seguindo dentro da loja. Para onde eu ía, ele ía atrás, e quando eu parava, ele se colocava na minha frente e ficava me olhando. Aquilo foi constrangedor! Dei graças a Deus quando a mãe dele veio me socorrer!
Os idosos me olham com pena. Sabe aquele olhar em que vc se sente um cachorro de rua? São os piores! É como se me achassem a pessoa mais sofredora do mundo! E a maioria deles tece algum comentário. Certa vez, eu estava parada olhando uma vitrine no shopping, quando uma senhora se aproximou. Ela não queria olhar a vitrine, apenas falar comigo. E ela solta: "Tadinha, tão jovem, tão bonita, e aleijada!". Eu olhei pra ela, dei um sorriso amarelo e me retirei, engolindo a seco a vontade de dizer poucas e boas. Odeio que me chamem de coitadinha!!!!!
Já os adultos, me olham de um jeito que eu ainda não consegui adjetivar! É como se quisessem me dizer: "É isso aí! Vc é uma vencedora! Admiro a sua força!". A maioria deles, principalmente as mulheres, sorriem. E eu, mesmo sem entender, me sinto na obrigação de retribuir, completamente sem graça.
Agora, para os adolescentes, eu simplesmente não existo! Eles dificilmente me vêem! Não sei se isso é bom ou ruim, só sei que gosto! Um cadeirante já chama atenção por si só, e quando ele usa uma cadeira cor de rosa como a minha, fica praticamente impossível passar despercebido!
Como eu disse, não me importo de falar sobre o meu problema ou sobre como é ser deficiente. Acho até importante para a conscientização das pessoas. Mas tem alguns dias em que eu simplesmente não estou a fim! Como seria bom se as pessoas percebessem e respeitassem isso!
segunda-feira, 11 de abril de 2011
O que eles vêem quando olham pra mim?
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