Já deu para perceber que eu estou passando por uma fase complicada na minha vida, né? Pois é, mais uma rasteira, mais um pontapé que a vida me dá... O processo tem sido extremamente difícil e cansativo. Às vezes (muitas vezes), sinto um aperto tão grande no coração, como se alguém o estivesse apertando com as duas mãos. Enfim...
bad days!
Mas o que eu quero realmente falar hoje é sobre o lado bom. Não adianta negar, TUDO nessa droga de vida tem seu lado bom. E a coisa boa que eu conquistei essa semana, vou publicar aqui. Porque me orgulho de ter conseguido, e quero que fique registrado para que eu possa, sempre que me sentir incapaz de realizar alguma coisa, reler e reviver este momento.
Fazem 3 anos e meio que eu me tornei cadeirante e, durante esse tempo todo, NUNCA, em hipótese alguma, me atrevi a sair de casa sozinha. Nem mesmo para dar uma volta no quarteirão. Sempre tinha alguém me acompanhando, (super?) protegendo, ajudando... Isso sempre me incomodou porque eu via muitos cadeirantes sozinhos pelas ruas, levando uma vida livre e independente.
Logo no início, eu tentei muitas vezes, mas sempre tinha alguém para me desencorajar: "Tu não vais sozinha! Não tem necessidade! Eu posso te levar! A rua é perigosa! Você pode se machucar, ou ser assaltada, ou atropelada..." Estas coisas foram se tornando verdadeiras na minha cabeça e eu acabei me entregando à dependência. Na verdade, de certo modo, eu achava legal. Significava que as pessoas se preocupavam comigo, queriam ajudar, estar perto, enfim. Eu me acomodei! E a culpa não é de ninguém, só minha! Eu é que precisava colocar limites nessa superproteção.
Pois bem, na última quinta-feira, dia 21 (acho que não vou esquecer nunca esse dia) eu tomei uma decisão séria: no dia seguinte, eu iria sozinha para a faculdade. E eu fui tão contundente que o Elmir nem se atreveu a contestar, como de costume.
E assim o fiz: passei o dia inteiro mentalizando, planejando e prevendo os possíveis perrengues. À tarde, saí mais cedo que de costume e não olhei para trás. O olhar de preocupação das pessoas podia me fazer desistir. Subir no ônibus foi fácil, as pessoas ajudaram numa boa. Mas o percurso foi aterrorizante! Não vou negar, eu estava apavorada! Foram 40 minutos de total desespero, medo de não conseguir, de falhar comigo mesma... O celular toca. Era a Cecília me pedindo para ligar assim que chegasse. Na verdade, eram meus pais preocupados, eu sabia.
Descer do ônibus e tocar a cadeira por uma distância considerável, no meio da rua (porque pela calçada é impossível) e debaixo de uma chuva fininha, essa seria a maratona. Respirei fundo e fui! Tive que parar no meio do caminho algumas vezes para descansar. Meus braços ainda são fraquinhos. Numa dessas paradas, passou uma colega de sala e me ofereceu ajuda. A tentação foi grande, mas eu agradeci e recusei. Eu não podia me entregar! Era uma luta pessoal, minha comigo mesma, e eu venci! Cheguei sã e salva na faculdade e fui direto para o banheiro, onde desabei. Chorei copiosamente, mas de felicidade, por me sentir capaz e por saber que nada mais vai me parar, ou me impedir.
Liguei para casa e tranquilizei o povo. Fiz uma prova casca grossa mas com uma autoconfiança que não cabia em mim. Depois, fui com os amigos para um barzinho comemorar o encerramento do semestre e a minha vitória. Eu não costumo beber mas fiz questão de pedir uma caipirosca. Eu merecia! E o brinde ficou por minha conta:
"Eu brindo à vida! Essa filha da puta que vive me jogando pedras. Mas hoje ela aprendeu que para me derrubar, vai ter que bater mais forte da próxima vez. Por que todas as pedradas que ela me deu até agora, eu matei no peito e chutei pro gol!"
Foi tudo tão revigorante, que eu repeti a dose no sábado e no domingo, já sem medo ou desespero.
E isso é só o começo de um longo caminho!